Doce Amargo


Sobre a coragem

A nossa vida pode ser resumida em vários pequenos atos de coragem. Coragem de largar o emprego, de responder o chefe, de manter o que se acredita, de mudar de cidade, mudar a cor do cabelo, de mudar o estilo de vida. Coragem de mudar o caminho que se faz diariamente… 
Mas ter coragem não é uma coisa simples, mudar o status quo das coisas traz sensações agridoces que mexem com os brios mais profundos de qualquer ser. A inércia é boa, a casa na praia é boa, a vida na cidade pequena é boa. Viver acostumado com as coisas como elas são traz uma falsa sensação de paz, conforto e tranquilidade que muitas vezes precisa apenas do farfalhar das asas de uma borboleta a kilometros de onde estamos para tudo mudar. 
Basta um pequeno ato de coragem ensandecido, uma decisão rompante, inconsequente e desmedida para que se mude, faça diferente.

A vida vira 180º, pessoas se vão, pessoas novas chegam, a gente mal se reconhece. 
E talvez, naquele momento a gente se encontre, se perca, sorria e chore. E talvez, muito talvez, finalmente consigamos perceber que é pra frente que se anda, é de coragem que se precisa e é felicidade que a gente encontra. 

Se machucar é inevitável

Há os que digam que você pode evitar e que o sofrimento é opcional. Mas você convive com pessoas. Pessoas diferentes de você, com julgamentos e ações diferentes, com percepções e bagagem de vida diferentes da sua. Pessoas que eventualmente vão te machucar, quer você queira ou não, quer elas queiram ou não.
É natural, as pessoas não são completamente boas ou más, isso só existe em contos de fadas. Somos um misto de coisas boas e ruins e julgamentos errôneos, egos inflados, carência aguda e atos impulsivos, em resumo, somos humanos. Completamente cheios de defeitos de fabricação.
Seu coração vai se despedaçar e você vai sair juntando os caquinhos tantas vezes que vai perder a conta. Vai doer, o chão vai se abrir, o peito vai ficar apertadinho e você vai tirar uma lição e vai amadurecer um pouquinho por isso. Cada passo em falso, cada queda ou tropeço servem pra nos deixar mais atentos e eventualmente mais fortes.
Mas é inevitável, você vai se decepcionar com as pessoas, vai tomar as dores delas e muitas vezes vai se sentir sozinho na hora que precisar que alguém tome as dores por você. Vai chorar no travesseiro, vai se fechar e depois de um tempo, vai passar.
E você vai aprender que na vida é assim mesmo, você não vai viver 100% do tempo feliz, a grama nem sempre tá verdinha e aguada, mas o mundo não precisa acabar por isso, não é mesmo?


Culpando a vida.

Mas foi a vida que nos fez assim.

Ela une as pessoas em determinados momentos e nossas decisões nos levam além…
Além dos sonhos, além do limite, além do amor.

Mas foi a vida que nos fez assim.
Entregues e ansiosos.
Afobados e indecisos.
Egoístas.

Foi a vida que nos deu a chance de construirmos nossa curta história que ecoa ainda hoje por dentro do meu coração vazio.

Foi a vida que fez você tomar as decisões que lhe cabiam e foi ela mesmo que me fez chorar tantas vezes no travesseiro, o melhor confidente que qualquer mulher pode ter.

Foi a vida que nos juntou
e no meio do caminho
separou.


Sobre as nossas escolhas

“Alice, durante sua jornada para sair do mundo de fantasia e voltar para casa, chegou numa bifurcação (onde o caminho se dividia em dois). Ficou, durante algum tempo, pensando que caminho deveria seguir. Foi aí que apareceu o gato de cheshire e lhe perguntou:

– Qual o problema Alice? Posso te ajudar?

-Estou em dúvida sobre qual caminho seguir, respondeu.

-Aonde você quer chegar? Perguntou o gato.

-Eu não sei. Respondeu Alice.

– “Ora, se você não sabe aonde quer chegar, então qualquer caminho serve…”.

Escolher nem sempre é fácil. O coração pensa de um jeito e a razão de outro e no meio tem a gente querendo descobrir o que fazer e como agir.
São sempre dois caminhos com perdas, danos e sofrimento, não adianta, a gente veio pra esse mundo sem escolher mas temos que aprender a viver dentro dele. Uma coisa meio imposta, meio à força, que a gente vai se acostumando.
E não, não dá pra escolher os dois caminhos, infelizmente as estradas que eles levam são completamente opostas, levam à caminhos extensos e diferentes, muitas vezes exaustivos, muitas vezes alegres e sempre com aquele gosto agridoce que a vida teima em nos oferecer.
Não adianta fugir, se esconder ou correr, eventualmente você vai ter que escolher.
E como diz o Capital Inicial em uma de suas músicas: “Escolha uma estrada e não olhe pra trás…”


Chegar à beira do precipício e se jogar é um ato corajoso, destemido e incrivelmente burro.
Só os idiotas são corajosos a ponto de deixar tudo pra trás e mergulhar na queda livre sem saber se chegarão com segurança ao chão.
Só os idiotas amam sem os pés no chão e sem a realidade de olhos incrédulos que só os céticos tem.
Só os idiotas pulam do precipício sem uma corda amarrada na cintura e um elástico preso a ela, dando a segurança da volta.


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E a minha companhia deverá me bastar. Só não sei até quando.


Larguei as armaduras, os castelos, as fortalezas e as armas.
Deixei você penetrar fundo em minh´alma tão inquieta que conhecestes todos os meus medos e inseguranças.
Conheci também aquele seu olhar profundo, segurei suas mãos calejadas, beijei seus olhos lacrimejantes e abracei seu corpo sedento de carinho.
Mas não é fácil… não é doce. Nunca é.


Detalhes

É o jeito de pegar na mão
de abraçar e de olhar fundo no olho.
Aí a gente percebe que se importa… e muito.


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Ironia é passar a vida se escondendo atrás de armaduras, castelos e fortalezas imaginárias e chegar alguém e se apaixonar exatamente por essa ilusão.


talvez o que esteja acontecendo é só um revezamento de olhares…
só o tempo fará o encontro acontecer.